sábado, 27 de fevereiro de 2010

Imploro ao vento

Hoje quase todas as frases escritas na minha memória apagaram-se.
A força bruta do vento levou uma parte de mim, sem pedir autorização. Trouxe, novamente, aquele bloqueio constrangedor, motivado por razões minhas velhas conhecidas. Prendeu-se com toda a sua força e amarrou-se, a mim, para não mais sair. Hoje estou presa em pensamentos profundos, ontem meramente superficiais. Uma mágoa fria arranhou e quase rasgou o meu coração, vagueando, de momento, na minha atmosfera humana triste.
Imploro, agora, ao soprar do vento agreste que me faça esquecer o que sei, que apague o que na minha memória restou gravado, que os espectros regressem ao meu mundo... hoje perdido num emaranhado de sentimentos infelizes.
Talvez, amanhã, quem sabe, sentar-me-ei na relva macia, esquecerei todo e qualquer assunto que me relacione com aquela realidade, derramarei aquelas lágrimas que limpam os jovens espíritos inquietos.

27 de Fevereiro de 2010

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quero...

Quero ser palavras não ditas, quero transformar-me em frases lidas no meu diário infantil, quero ser o que nunca fui e sempre desejei ser. Quero alcançar a liberdade, quero desprender-me das cordas que me rodeiam e me impedem de agir verdadeiramente, quero sentir-me leve, plenamente natural.

Quero deitar-me de corpo e alma sobre os sentimentos do mundo, quero vivê-los na sua globalidade, quero sentir repugnância pela maldade, quero enaltecer a sinceridade dos gestos voluntariamente dados, quero coabitar com que é eterno, quero esquecer todo e qualquer dado que me faça ser mortal.

Quero ser uma roda viva em pensamentos, quero tornar-me simples e, ao mesmo tempo, complexa em emoção. Quero ser melodias suaves, quero ser os passos alheios dados por outros, quero ser a casa antiga composta por pedra. Quero ser a pedra colocada no assunto que faz sofrer outros.

Quero restabelecer o meu passado, quero viver o presente, quero projectar-me inteiramente no futuro.

22 de Fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A estrela da amizade

Ao anoitecer despertou em mim a vontade impulsiva de contar um segredo às estrelas do céu.

Vou relatar-lhes o que sei sobre a rosa da amizade, aquela que é verdadeira e não magoa porque não tem espinhos. Vou usar o soprar sereno do vento, o mistério do passar do tempo, a magia eterna das palavras, o tamanho infinito do oceano, o sentimento e o pulsar eterno do meu coração.
Vou despertar o brilho às estrelas, recorrendo à verdade em letras pausadamente soletradas, a pétalas aromáticas da minha imagem contemplativa, reflectida naquele mar onde cada gota salgada é um pensamento doce.
Vou simular ser uma estrela que não permanece só, antes caminha sobre o vazio do céu, voa velozmente no alto da imaginação e dos sonhos do meu mundo infantil... perdidos na caixa das recordações guardada no fundo da cómoda antiga.
Vou esquecer o que será de mim sem o mundo real, preferindo projectar-me no infinito azul profundo do céu cerrado. Tudo para que, numa noite futura, possa ser o espectro capaz de ajudar um amigo indefinido.
20 de Fevereiro de 2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sentimentalismo

Há dias em que apenas ouvimos o pulsar do nosso coração, em que os sentidos dominam o nosso agir, em que ninguém

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Mundo dos Sentimentos


Entretanto o tempo passa por mim, coloca uma expressão contemplativa no meu rosto, fazendo-me esquecer quem sou. Divago solitariamente perante o que serei num futuro próximo à minha vivência.
O tic-tac do relógio envolve a matéria humana que há em mim, irrequieta o meu estado espírito, enaltece a minha beleza interior, espanta todo e qualquer sentimento. Lá fora, sente-se a ausência de tempo suficiente para resolver o que parece ter uma solução impossível, ter um resultado desprezável. Entretanto, levanto a indeterminação, sigo em frente, liberto-me do passado, caminho perante o que vier, escuto o que me é dito. O resto é o vazio que não me pertence.
Hoje a solidão bateu ao meu portal de sentimentos e entrou sem pedir autorização. Reconfortou-se no meu manto de emoções, deliciou-se nas almofadas de penas do meu coração, voltou-se para admirar o meu lado mais oculto e adormeceu perante o silêncio da minha atmosfera humana.
17 de Fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ao som do piano negro

Após a conjuntura nocturna, após a enorme pausa em silêncio, após momentos de reflexão em recordações passadas, após o período de amargura…caiu, repentinamente e de forma violenta, o manto de veludo vermelho sobre o harmonioso mármore branco.
As teclas do piano, abandonadas pelo passar do tempo, moveram-se delicadamente. Os longos e magros dedos de Alice decidiram finalmente tocar-lhes após o momento de tormenta. O seu quarto despertava lentamente ao som de melodias antigas, de composições repletas de emoção.
Enquanto deliciava o espírito tocando piano sentada no seu canapé, o seu pensamento navegava à deriva no seu mundo de espectros e de mutismos. Simbolicamente sentia-se reconfortada, pois o sublime som do piano, recorrendo ao movimento das teclas cor de pérola, alegrava-lhe o ânimo, bem como o espírito.
Seriam possivelmente as composições musicais, o ritmo melodioso, as partituras clássicas, guardadas no gavetão da cómoda do seu quarto, capazes de reanimar a atmosfera humana daquele palácio de sentimentos onde Alice vivia envolvida.

No momento actual, tal ambiente fazia Alice sentir-se absorvida pelas notas musicais que a tornavam forte, imune, resistente aos obstáculos propostos voluntariamente pelo tempo.
4 de Fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Aquele meu silêncio

Silêncio... um profundo silêncio entranhara-se na minha alma, impedindo-me de expressar convenientemente o que naquele momento, verdadeiramente, sentia.
Naquele meu recanto encoberto, escondia-me no escuro cerrado onde ninguém me pudesse encontrar, escondia-me de todos os seres, escondia os meus mais intensos sentimentos, escondia a minha existência sensorial, escondia o que o coração me transmitia em segredo.
Em pensamentos, imaginava bosques longínquos onde pudesse viver um dia livre e plenamente, visualizava aquelas florestas penetrantes capazes de abranger este meu sofrimento de modo a cessá-lo definitivamente, recordava momentos outrora vividos por mim, divagava com o coração, segredava as minhas angústias ao vazio. Permitia que o meu espírito deambulasse nas lembranças quase esquecidas e consumidas pelo tempo. Desconhecia todo e qualquer dado que me permitisse desvendar o amanhã, apagava do meu espírito qualquer certeza quanto ao que serei no futuro. Tudo, simplesmente, porque sabia que o que começava teria certamente um desfecho, tão ou mais doloroso como o momento da criação da obra.
Deixava levar-me misticamente pelas palavras, uma vez que é recorrendo a elas que expressava sentimentos sem nada transparecer. Provavelmente, estas seriam o melhor abrigo para ocultar o que conjecturo.
3 de Fevereiro de 2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Miragem de recordações

Naquele exuberante local tudo era longínquo, distante, profundo...
Lembro-me de olhar pelos largos janelões e aperceber-me da singularidade daquele local. Recordo-me de como era envolvido por um extenso e penetrante bosque, onde abundavam flores de variadíssimas cores e espécies. Ali, naquele lugar, podia sentir o abandono do salão onde me encontrava, podia sentir um frio característico daquele espaço capaz de paralisar-me e regelar um qualquer movimento que pudesse dar naturalmente. Misterioso, taciturno, poderoso. Era assim que o meu espírito o caracterizava.
Todavia, o que me terá captado a atenção foi o amplo espelho existente no grandioso salão. Reflectia alguns dos momentos ali vividos por pessoas de outros tempos, com outras mentalidades, desiguais às actuais. Reflectia leves passagens de instantes vividos por outros seres. Rostos. Vidas passadas. Quantos nobres e famílias abastadas terão frequentado aquele nobre salão, ressequido pelo tempo? A madeira presente naquele chão estava, agora, gasta por tantos passos e momentos vividos.
Solidão. Avistei no tecto portentosos e valiosos candeeiros de cristal que permaneciam quase sós, numa sala onde escasseavam adornos. Pureza. Estranha sensação neste mundo, onde a ingenuidade há muito que desaparecera de forma inesperada. Perfídia. Era agora a falsidade que reinava no mundo real. Ostentação. Quantos quadros e retratos pintados a óleo presenciaram momentos consumidos pelo tempo. Beleza. Nas restantes divisões do palacete, os belos tectos constituídos por talha dourada podiam ser vistos na polida mármore presente no solo.

No momento derradeiro, resta resumir quanta terá sido a tristeza, quanto terá sido o tempo perdido, quanta será a saudade, quanta será a ilusão que ali ainda permanece. Certamente era um mundo diferente, era um mundo construído por recordações de outros tempos.
30 de Julho de 2008